Por Tamyris Torres
O Brasil é um país dicotômico em sua essência. Somos um povo
que ao mesmo tempo possuímos riqueza abundante entre uma sociedade, mas também
chegamos à miséria extrema e todos por aqui falamos a mesma língua: o
português. Somos um grupo étnico que nos esforçamos para sediar notórios eventos
esportivos, mas não tratamos com a mesma importância ao fato do imbróglio entre
os índios e os homens brancos na Aldeia cujo nome, em tupi, dá vida ao estádio
ao lado da mesma: o Maracanã.
Há muito tempo estamos dando atenção a coisas erradas. Não
que sediar a Copa do Mundo, em 2014 ou as Olimpíadas, em 2016 seja uma delas.
No entanto, a meu ver, estamos fazendo isso errado. Damos prioridade a mostrar
a todos os outros países o que somos capazes de fazer e fazemos de forma
impressionante!
Exemplo prático disto é que a Justiça Federal está
desapropriando a Aldeia Maracanã somente porque ali será construído o Museu
Olímpico. Tenho certeza que, se não houvesse outro destino para àquelas terras,
os índios continuariam ali por anos a fio. Nossas autoridades, por muitas
vezes, fazem o certo com a ideia errada. Pois o governo e o município já
deveriam ter dado aquelas famílias indígenas e todas as tribos que lá vivem outras
oportunidades de se manterem em outro lugar.
Oferecer agora
R$400,00 reais mensais de Aluguel Social ou dar condições para que os índios
voltem ao seu lugar de origem é muito mais que bondade, é ‘business’. Mas como
agora o calo está apertando, essas mesmas autoridades os veem, infelizmente,
como uma pedra no sapato. Parece birra dos homens brancos que foram coibidos de
montar um estacionamento nas imediações do Maracanã visando a Copa do Mundo.
As
reações da classe artística, de políticos e ativistas impediram que o Governo
do Estado não optasse pela demolição, mas também não se deixou por isto mesmo e
como resposta às reações foi anunciado que os índios teriam de deixar o local
da mesma forma, pois seria construído o Museu Olímpico e disto eles não abrem
mão!
Não me espantará se, no próximo ano, o trânsito no Rio de
Janeiro não dar um nó. Eu não estou me desesperando com os prazos para entrega
do Maracanã. E tampouco ficaria assustada se umas 20 linhas de trem e metrô
aparecessem, por assim dizer, do nada. É como eu disse: no Brasil tudo
acontece, mas quando se tem um interesse.
Só que antes de 2014 e 2016 temos problemas a resolver.
Durante as manifestações de ontem, dia 21 e hoje, dia 22, o Rio de Janeiro
continuou com seu habitual caos do trânsito, porém com uma pitada a mais de
pimenta nesse caldeirão. As manifestações no entorno da Aldeia estão causando
problemas no trânsito e para variar nós entendemos isto como normal. Deve ser
porque já nos acostumamos a sair de casa com 40 minutos de antecedência já
visando os impasses que encontraremos no caminho.
O mais entristecedor disso tudo é que vamos passar por
esses problemas, vamos pular, rir e nos divertir na Copa e nas Olimpíadas e
quando tudo voltar a ser como era antes das mesmas, vamos fazer piadinha sobre
a mesma situação em qualquer mesa de bar. O Brasil não está pronto para sediar eventos
como estes, mas não pela infraestrutura. Nós não estamos preparados porque nos
falta maturidade social.
É por isso que a decisão do poder público em atingir o
Estádio Célio de Barros, o Parque Júlio Delamare e a Escola Municipal Friedenreich
somente porque estão no caminho das obras de mobilidade urbana visando à Copa
do Mundo 2014 é tratada como figura coadjuvante nos noticiários dos principais
jornais do país.
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